Noite de lua cheia. Ela olha para fora da janela. Algo muito bom está a caminho. Algo ou alguém.
Ela sai do seu apartamento, pega o elevador e sobe até a cobertura. Se sente tomada pela brisa leve e fria. Seus cabelos esvoaçam. Belos cabelos negros aqueles.
Aquilo lhe lembrava alguma coisa. Era o seu namoro, que tinha acabado há alguns dias. Depois de tudo que tinham vivido, eles tinham se separado. Por bobagens, mas se separaram. E nos últimos dias ela andava triste, cabisbaixa. Pensando e refletindo sobre seu namorado. Ele que se danasse agora. Não importava mais. Era o que ela pensava até algumas horas atrás. Agora não pensava mais nisso. Apenas não sorria, afinal, dois anos e meio de namoro mexeram muito com ela. Mas aquele momento de brisa não era hora para chorar, nem para pensar em algo que já tinha passado. Passou, já foi.
Aquele momento era especial. As luzes dos outros prédios vinham fracamente até seus olhos. Mas vinham, e isso interessava. Era uma visão linda. A cobertura do prédio mais lindo e melhor localizado. Não era dos mais altos, mas nem dos mais baixos. Tinha doze andares, o térreo e a cobertura. Ela morava no apartamento 605.
Agora, na cobertura, ela sentia vontade de entrar na piscina. E entrou. Nadou um pouco e divertiu-se com lembranças de infância. Quando saiu, se enrolou numa toalha e sentou-se numa cadeira por perto. Olhava aquelas luzes lindas. Fracas, mas lindas.
E começou a lembrar de toda a sua vida. Tudo o que tinha feito. Ela não era velha, tinha uns vinte e cinco anos. Mas mesmo assim, se sentia já velha, vendo as novas gerações e seus divertimentos. Tudo diferente da sua época. Agora, as crianças não brincavam mais de subir nas árvores, de assistir Xuxa.
Tudo era uma porcaria agora. Mas fazer o que, é o mundo delas. Seu mundo já foi faz tempo. E não volta mais.
Ela pensava em tudo. E estava feliz. Arrependia-se apenas do que não tinha feito.
E descobriu o quanto a vida valia a pena.
Pegou o elevador e voltou ao seu apartamento. Já tinha ficado feliz o suficiente para aquele dia.