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19 de setembro de 2007

Cobertura

Noite de lua cheia. Ela olha para fora da janela. Algo muito bom está a caminho. Algo ou alguém.
Ela sai do seu apartamento, pega o elevador e sobe até a cobertura. Se sente tomada pela brisa leve e fria. Seus cabelos esvoaçam. Belos cabelos negros aqueles.
Aquilo lhe lembrava alguma coisa. Era o seu namoro, que tinha acabado há alguns dias. Depois de tudo que tinham vivido, eles tinham se separado. Por bobagens, mas se separaram. E nos últimos dias ela andava triste, cabisbaixa. Pensando e refletindo sobre seu namorado. Ele que se danasse agora. Não importava mais. Era o que ela pensava até algumas horas atrás. Agora não pensava mais nisso. Apenas não sorria, afinal, dois anos e meio de namoro mexeram muito com ela. Mas aquele momento de brisa não era hora para chorar, nem para pensar em algo que já tinha passado. Passou, já foi.
Aquele momento era especial. As luzes dos outros prédios vinham fracamente até seus olhos. Mas vinham, e isso interessava. Era uma visão linda. A cobertura do prédio mais lindo e melhor localizado. Não era dos mais altos, mas nem dos mais baixos. Tinha doze andares, o térreo e a cobertura. Ela morava no apartamento 605.
Agora, na cobertura, ela sentia vontade de entrar na piscina. E entrou. Nadou um pouco e divertiu-se com lembranças de infância. Quando saiu, se enrolou numa toalha e sentou-se numa cadeira por perto. Olhava aquelas luzes lindas. Fracas, mas lindas.
E começou a lembrar de toda a sua vida. Tudo o que tinha feito. Ela não era velha, tinha uns vinte e cinco anos. Mas mesmo assim, se sentia já velha, vendo as novas gerações e seus divertimentos. Tudo diferente da sua época. Agora, as crianças não brincavam mais de subir nas árvores, de assistir Xuxa.
Tudo era uma porcaria agora. Mas fazer o que, é o mundo delas. Seu mundo já foi faz tempo. E não volta mais.
Ela pensava em tudo. E estava feliz. Arrependia-se apenas do que não tinha feito.
E descobriu o quanto a vida valia a pena.
Pegou o elevador e voltou ao seu apartamento. Já tinha ficado feliz o suficiente para aquele dia.

25 de agosto de 2007

Pianíssimo

A luz da lua entra pela janela
E ilumina as teclas do piano
Mas não ilumina todas
A lua deixou o sol de fora

8 de agosto de 2007

A Greve das Pombinhas

Existe uma história sobre as pombinhas do rei e da bruxa medieval. Eles moravam no palácio medieval do reino medieval mais parado e antiquado da época, onde chovia pedrinhas. Tudo naquele feudo era chato. As pombinhas, coitadas, eram secas e comiam as pedrinhas. Não podiam comer grama por causa da placa "Não Pise" que a bruxa tinha colocado. Água, só quando chovia. Nem o milho tinha sido descoberto naquela época. Plantava-se e colhia-se apenas maçãs, que já saiam das árvores com um lacre e uma etiqueta, contendo peso e informação nutricional. As coitadas das pombinhas não podiam comer maçãs, porque passavam mal. E ainda por cima não ganhavam salário por comer as pedrinhas para o rei. A bruxa, volta e meia roubava uma pombinha. E todas as outras ficavam curiosas para saber o que acontecia. Espiavam pela janela da cozinha, mas só podiam ouvir os ais e uis da pombinha roubada.
Até que um dia, cansadas de tanto marasmo, as coitadas das pombinhas secas fizeram greve.
Entraram dentro do palácio e roubaram comida da geladeira. Depois, tomaram banho na piscina do rei. E nada de comer pedrinhas.
A bruxa se revoltou e mandou o caçador matar as pombinhas e trazer os coraçõezinhos para que ela embalsamasse e colocasse no museu do palácio.
O caçador sabia que a bruxa era vesga e caolha e que o rei era um banana. Então matou todas as pombinhas, exceto uma, que fugiu, assou e comeu uma por uma. Para disfarçar pegou umas pedrinhas do pátio e levou para a bruxa.
Mas a bruxa, apesar de vesga e caolha, era esperta e sentiu que os coraçõezinhos estavam duros demais. Atirou as pedras no caçador e o despediu por justa causa. E para se vingar, contratou um canibal para caçar o caçador e pediu a ele que trouxesse o coração também.
O canibal topou. Encontrou o caçador, esfaqueou, estripou, dissecou e o devorou. O problema é que o canibal não comia há muito tempo. E de tanta fome comeu o coração do caçador, por aci-dente de trabalho.
Então roubou uma maçã, tirou o lacre e a etiqueta e deu para a bruxa quando voltou ao palácio.
A bruxa sabia muito bem o que era uma maçã, e então jogou a geladeira no canibal. Ele se esquivou. Abriu a geladeira e jogou um frango assado na cabeça da bruxa. Ela foi ao chão, nocauteada. E então o canibal esfaqueou, estripou, dissecou e comeu a bruxa.
O rei dormia na sala, ouvindo música. O canibal, quando acabou de comer, tomou um banho e tirou um cochilo. O rei ainda estava na sala. Então o canibal pensou em devorar o rei e aproveitar sua enorme pança. Devia estar cheia de pernas de frango e de porco. Mas também pensou: "coitado do rei, ele é tão banana… acho que ele vai pro céu por ter sido inútil". E não comeu o rei. Deixou para depois. Mas aproveitou o pique e comeu a orquestra todinha. Nem o maestro sobrou.
O rei olhou para o canibal e perguntou:
- Para onde foi a orquestra?
- Para... para o museu - respondeu o canibal, desconcertado.
- Quando eles voltam?
- Esqueci de perguntar.
- Então deixe.
O canibal foi então à cozinha. Abriu a geladeira caída e tomou refrigerante de maçã. De repente uma pombinha apareceu na janela:
- Oh! Socorro! Aí vem o caçador!
- O caçador? Mas eu já o devorei…
- Não aquele... Olhe ali! - e a pombinha deixou cair uma garrafa de vodka.
- Sua pinguça!
Então o "caçador" entrou voando pela janela. Era a bruxa em forma de fantasma. Ela deu ao canibal o que ele merecia. Pegou-o, colocou-o em sua vassoura e o levou.
Os dois voaram por muito tempo e chegaram ao Portal do Inferno. Lá estava a orquestra, em forma de fantasma, à espera deles. O maestro então ordenou que se tocasse uma música mágica medieval e a bruxa e o canibal foram parar dentro do livro de magias dela. E lá ficaram presos até chegar o inverno.
A piscina do palácio tinha congelado e sem a bruxa para pôr ordem na casa, o rei se viu obrigado a dar uma ordem. Ordenou que alguém ligasse a lareira.
- Mas não há lenha, senhor. - respondeu um criado.
- Ah, deixe que eu busco…
O rei procurou, procurou e não achou lenha nenhuma. Só o livro de magias, no Portal do Inferno. Servia.
Levou o livro e o jogou na lareira. E lá se foram queimados a bruxa e o canibal e dentro do estômago dele a orquestra, o caçador e as pombinhas.
E ninguém mais comeu pedrinhas. A pombinha que tinha fugido mudou-se para o outro feudo para participar dos Alcoólicos Anônimos.
Até que um dia, de tantas pedrinhas, o rei morreu soterrado.

1 de agosto de 2007

O Conto de Dona Baratinha

Dona Baratinha era um animal fantástico e genial. Certa vez teve uma idéia incrível para um conto. O problema era escrever. Afinal, papel, lápis, lapiseira... tudo pelo menos cinco vezes maior que ela. O jeito era procurar alguém que pudesse escrever a sua idéia.
Dona Baratinha ajeitou uma trouxinha de roupas e chamou um colega pra ir com ela. Seria uma longa aventura.
O texto sendo lapidado na cabeça, Dona Baratinha exigiu silêncio enquanto caminhavam. Algumas horas depois, eles já tinham chegado numa esquina bastante movimentada. E bota movimento nisso.
Ao que parecia, estava havendo uma romaria, porque estava tudo escuro e havia umas velhinhas humanas cantando umas coisas que lembravam "Maria", e carregando uns pedacinhos de fogo.
E as velhinhas andavam lentamente, com passadas pesadas, e a pobre Dona Baratinha precisava atravessar a rua.
Foi uma trabalheira terrível. Era sandália prendendo uma antena aqui, outra sandália quase pisando nela. Seu pobre amigo foi um que acabou ficando pelo caminho durante a aventura. E como a rua era de terra batida, logo logo ele estaria enterrado, o que deixou Dona Baratinha um pouco aliviada.
Finalmente chegou do outro lado, sozinha e cansada. Mas a jornada devia continuar! Dona Baratinha não desistiria tão fácil assim.
Sem saber, entrou num salão de festas, onde estavam dançando forró. Ela não fazia idéia do que era aquilo, mas com certeza absoluta era pior que atravessar a rua. Ali deveria haver pelo menos três vezes a quantidade de pés que andavam pela rua lá atrás.
Ela tentou andar por entre os pés, mas dessa vez era quase impossível. Os pés se levantavam, arrastavam no chão, deslizavam, um salto aparecia do nada, e de repente uma pisada muito próxima arrancou um pedaço de sua antena.
Ofendidíssima, Dona Baratinha, se retirou da festa do forró.
Caminhou a esmo, pois não sabia onde iria conseguir alguém que escrevesse o seu conto. Abriu as asas e voou um pouco, para poupar tempo e ter melhor visibilidade. Até que achou numa banquinha uns livrinhos bem pequenos, e lápis pequenos também. Que fabuloso!
Voou até lá e no meio do caminho, bateu a cabeça num vidro fechado. Meio tonta, caiu alguns centímetros, e voltou a se erguer no ar, estupefata. Espremeu-se por entre a janela e o parapeito e entrou.
Voou rápida e diretamente para um pequeno livro com um pequeno lápis ao lado e sentou-se para relaxar antes de escrever.
Pááá.
Uma sandália voou no ar em sua direção, e milésimos de segundo depois, a cabeça de Dona Baratinha estava prensada contra o pequeno livrinho.
E foi assim que morreu Dona Baratinha.
E foi assim que morreu o conto de Dona Baratinha.

1 de junho de 2007

Passa Tempo, Tic Tac

Passa o tempo
Janeiro, fevereiro
Passa um avião
Março, abril
Passa o ônibus que eu acabei de perder
E já estamos em maio
Junho chega com nevezinhas
Pra se dar conta que o inverno é julho e agosto
Vem setembro, outubro
Pra esquentar o coração
Mas não adianta nada
Só passam adiante pra chegar o verão
Com novembro e dezembro
E aí você para e vê que o tempo passou
E você sorriu e amou meia vez no ano

15 de maio de 2007

Interurbano

Eu prometi visitá-la sempre que possível. Ela morava na mesma cidade de uns tios meus. Era meio longe, mas eu poderia aproveitar para cumprir minha promessa toda vez que fosse na casa dos meus tios. É claro que com o que eu ganhava ficava difícil e eu só podia viajar pra tão longe uma vez ao ano.
Nós nos conhecemos de uma maneira bastante inusitada. Por causa de uma aposta que fiz com alguns amigos e acabei perdendo, tive que pagar o preço. E o preço era fazer uma ligação interurbana, para outro estado, para um número totalmente desconhecido. Ou seja, passar um trote. Mas tinha que ser um trote categórico. Eu deveria conversar por pelo menos dois minutos com o alguém do outro lado. Sobre o quê? Bem, isso era problema meu. E aliás, um grande problema.
Acho que tentei umas vinte vezes e sempre a telefonista dizia que o telefone não existia e que eu deveria consultar a lista telefônica. De repente me veio a idéia de discar para meu próprio número, apenas com o código da cidade diferente. E funcionou, por incrível que pareça.
Não lembro muito bem o que disse, mas lembro perfeitamente o que ouvi. Infelizmente não posso contar, pois denigre muito a minha própria pessoa. Mas garanto que não era coisa boa. E é óbvio que todos os meus amigos riram de mim. Mas pelo menos eu já tinha cumprido a minha dívida de apostador fracassado.
E ela era o alguém a quem eu tinha passado o trote. Mas como eu ainda não sabia disso, resolvi usar da honestidade que ainda me restava, e quando cheguei em casa, sem perceber, já estava com o telefone na mão, discando o número dela.
Realmente foi uma ação involuntária telefonar. Mas pela primeira vez, hesitei em apertar os últimos dígitos. Devolvi o telefone ao gancho e me sentei ao lado dele, observando-o. E fitei o aparelho durante minutos a fio, sem reação nem pensamento.
Mas eu precisava falar com ela, pedir desculpas pelo trote. Acabei telefonando assim mesmo.
Foram três toques até que alguém atendeu. Mas não era ela. Parecia ser a voz de uma garotinha, talvez uns cinco ou seis anos. Perguntei se poderia falar com sua mãe, para quem ela passou o telefone. Mas também não era ela. Apesar de parecer a voz de uma mulher, com seus vinte e muitos, eu sabia que não era ela.
Provavelmente a mulher com quem eu falava não sabia do trote. Mas a minha única saída foi falar sobre o assunto. E, para minha grande sorte, ela disse que não sabia de nada, tinha chegado há pouco tempo e que era a filha da dona do telefone. Pedi que a chamasse.
E finalmente consegui falar com ela. Expliquei o motivo do trote, as cirunstâncias, e ela pediu desculpas por ter sido agressiva. E eu também pedi desculpas por ter escolhido justamente o número dela. E ficamos nos desculpando. Então ela pediu se eu queria mais alguma coisa.
Essa pergunta foi verdadeiramente pura conveniência. Era um pretexto, quem sabe eu parasse de tomar tempo. E novamente uma ação involuntária minha disse que sim. E também involuntariamente comecei a perguntar. Sobre tudo e qualquer coisa. Descobri que ela se chamava Marieta, que morava na mesma cidade dos meus tios, que tinha uma lanchonete nas margens da BR e que já era avó.
Ela descobriu a coincidência dos nossos telefones, onde eu morava, meu nome, que curso eu fazia, etc.
Acabamos ficando um pouco amigos. Acho que ela também teve a mesma impressão.
E no outro dia, ela ligou pra mim pela noite. Fiquei tão surpreso. Assim que ela disse "Alô" eu reconheci a voz. E ficamos conversando até tarde da madrugada. No dia seguinte até perdi a hora por causa do sono atrasado.
E de noite eu liguei para ela e tudo aconteceu de novo.
Por dias, semanas nos telefonávamos diariamente. Era o início de uma grande amizade. Comecei a chamá-la de Mamma. E ela começou a me chamar de Ninno.
Foi aí que eu prometi visitá-la sempre que possível. Não lembro bem ao certo quando foi a primeira vez que fui vê-la pessoalmente. Sei que disse a todo mundo que estaria indo tirar férias na casa de um tio meu. E era meio verdade, afinal, eu fui mesmo na casa dele. Mas é óbvio que eu passei bem mais tempo na casa da Mamma.
Ela não tinha cara de avó. Até achei engraçado quando descobri pelo telefone que ela era avó com apenas quarenta e seis anos. Achei tantas outras coisas engraçadas e ela também e ficamos conversando os dias todos, desde o acordar até a hora de dormir.
Infelizmente tive que voltar pra casa, mas continuamos a nos falar sempre por telefone. E anualmente eu a visitava.
Mas sabe como a vida é traiçoeira. Por mais que encontremos alguém assim, maravilhoso, ela, a vida, se encarrega de estragar tudo.
E tudo começou a ruir quando, por motivos financeiros, afinal gastávamos duzentos ou mais em interurbanos conversando, paramos de telefonar diariamente. Era uma vez por semana, depois uma vez por mês.
A inflação subiu, e com ela os preços. E o meu salário estava praticamente congelado. Tive que cortar despesas para poder sobreviver. E foi ficando tudo difícil.
Apareceu um candidato à presidência que prometeu mundos e fundos. Eu também votei nele. E no fim das contas, ele levou embora o que me restava com aquele confisco.
Sem casa, sem carro, sem dinheiro, literalmente roubado. O que ainda me restava era o meu emprego. Pois foi o que perdi. E a esperança, que é a última que morre, estava na UTI, em coma. Quase morreu.
Mas eu ergui a cabeça, vendi alguns pertences e telefonei para Mamma, avisando que a minha última chance era viver ao seu lado, na lanchonete.
Eu quis avisar que estava me mudando pra lá, mas não foi Mamma que atendeu. Foi minha "irmã". Ela disse que, por mais triste que fosse, eu deveria aguentar firme. Mamma adoecera e seus cinquenta e poucos anos estavam se indo.
Minha esperança morreu exatamente naquele momento. Deixei o telefone escorregar da mão e ali mesmo, no telefone público, tive um ataque cardíaco.
Me levaram para o hospital, mas infelizmente, não consegui. Passei a ser um cadáver e minha alma veio sentar-se onde estou agora. Acabei descobrindo que morrer não é tão ruim assim. O céu não é só uma promessa.
Daqui de cima, fiz o que pude e consegui salvar a vida de Mamma. Ela ficou inconformada com o que me acontecera, se culpou para sempre.
Me tornei meio-anjo e apareci num sonho dela, dizendo que cada um tem uma missão e que a minha era fazê-la feliz. Acho que ela entendeu, tirou o luto.
Tempo depois, me tornei um anjo de verdade, um anjo da guarda. Passei a cuidar de Mamma, a zelar por sua vida.
Hoje ela completa setenta e três anos. E fiquei feliz em saber que ela mudará aqui pra cima em poucos meses. Vai ser a primeira vez que ela vem me visitar.

25 de abril de 2007

A Mulher Vaidosa

A mulher vaidosa comprou cremes novos para o rosto. Utilizou-se de um e dormiu. Quando acordou, no outro dia, olhou-se no espelho e viu-se verde.

Hipótese 1: A mulher se esconde.

Não saiu de casa.
E assim foi durante um mês. Ao término desse período, a mulher vaidosa comprou cremes novos. Utilizou-se de um e no outro dia acordou azul. E não saiu de casa por mais um mês.
E sucessivamente, a cada mês, a mulher acordava de cores diferentes: amarelo, vermelho, roxo, laranja, bordô, pardo, rosa... Mas nunca saía de casa.
Aos poucos, colorida, a mulher vaidosa foi colocando o rosto para fora da janela, só um pouquinho, para espiar. Depois, começou a aparecer de corpo inteiro. Mas eram raras aparições na porta de casa. Depois começou a dar passeios curtos. E os passeios foram aumentando. E a mulher colorida e vaidosa conseguiu um emprego. No primeiro mês, todos a olhavam encolhidos, de olhares tortos. Aos poucos os olhares desentortaram e ela era apenas uma mulher colorida.
E desse mesmo jeito, colorida, viveu tranqüilamente sua vida.

Hipótese 2: A mulher se mostra.

Achou tudo aquilo o máximo. Saiu pela rua desfilando seu verde. No outro dia comprou outros cremes coloridos, utilizou e novamente colorida ficou. E assim foi por uma semana.
A mulher resolveu aparecer então em todos os lugares possíveis. Viajou azul, almoçou marrom em restaurantes finos do centro da cidade, apareceu amarela na televisão, fez propaganda dos cremes com o rosto de todas as cores possíveis.
Os cremes viraram moda. Todas as mulheres vaidosas andavam coloridas por aí. E a mulher colorida deixou de ser, tornando-se uma mulher comum.

Hipótese 3: A mulher se mata.

Não pensou duas vezes: correu para a cozinha, pegou uma faca e cometeu suicídio. Apareceu no jornal, mas não esteve lá para ver.
Não valeu a pena.

Hipótese 4: A mulher se lava.

Passou o dedo indicador no rosto e descobriu que o verde saía fácil.
Lavou bem o rosto e o verde saiu todo. Continuou sua rotina normal, não deixando de ser uma mulher comum, porém vaidosa.

PS: Este conto já foi premiado, e nada como estrear uma série nova com ele!